12.10.06

Chuva Oblíqua

Fui desafiada pela satine a partilhar este blog com ela.
Tenho o meu próprio blog, mas não tenho a paciência dela nem o talento nem a dedicação para escrever.
Estou sempre demasiado ocupada com nada, com o grande vazio que é a minha vida...vista de fora se calhar até nem é, mas é aquilo que eu sinto. E como é aquilo que eu sinto, passa a ser para todos os efeitos a realidade...pelo menos a minha.

Para iniciarmos este blog em grande deixo aqui o poema do nosso companheiro que dá precisamente o nome ao blog.


Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito

E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios

Que largam do cais arrastando nas águas por sombra

Os vultos ao sol daquelas árvores antigas…



O porto que sonho é sombrio e pálido

E esta paisagem é cheia de sol deste lado…

Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio

E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol…



Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo…

O vulto do cais é a estrada nítida e calma

Que se levanta e se ergue como um muro,

E os navios passam por dentro dos troncos das árvores

Com uma horizontalidade vertical,

E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro…



Não sei quem me sonho…

Súbito toda a água do mar do porto é transparente

E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,

Esta paisagem toda, renque de árvores, estrada a arder em aquele porto,

E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa

Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem

E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,

E passa para o outro lado da minha alma

1 comment:

Maria Felgueiras said...

Ainda bem que aceitaste o desafio. :) Do poema gosto em especial destes versos:



O porto que sonho é sombrio e pálido

E esta paisagem é cheia de sol deste lado…

Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio

E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol…



***